27/04/08

Enquanto a Barca não vem...

photo by Eric Hamilton



caiu ____ a última gota

não há espanto nem revolta

caiu ____ no dorso do tempo

com o silêncio como escolta



nada ____ consigo o prodígio

de ter o cérebro vazio

ter mais ____ nada ____ para dizer

aspiração ____ absoluto

descanso mais que merecido


uma palavra ao ouvido

de quem passar por aqui


- Enquanto a Barca não vem

façam Amor ___ sejam Paz

incomodem toda a gente

destronem a hipocrizia

derramem tanta ____ alegria

como dor ____ no rio corrente

esse ____ o que vai dar ao mar.



única urgência

- a mesma fúria ____ boa ____ Adolescente!

no amar ____ e no lutar.





Madalena Pestana

no canto do medo. canto.

Madalena Pestana no espectáculo "Nós Não Estamos Algures"


ofereço-me. e ofereço-me sempre alguns minutos de medo. como em menina

hoje. como aos vinte anos.

três minutos. não mais. o resto é o enfrentar o Coliseu e ver chegar as feras.

vêm de dentro

as feras. do Coliseu a que nos expomos. seremos nós quem ruge

bem no fundo

ancestrais temores a coisas novas. a desafios maiores?


não sei. não me apetece pensar. hoje menos que ontem. bem menos que amanhã

desejo meu!

enjoei de pensar. já lá vão tantos anos desde que comecei. como terá acontecido?

coisas de solidão

os ocupados de gente precisam pensar pouco. há o ruído em volta

a cabeça enche fácil

e o pensar fica com pouco espaço. para dançar palavras. como sangue a ferver


photo by yannic schon


quero é deixar que o sangue ferva

como com vinte anos magros e atentos que tive e tenho

(mais quantos outros mais?)

todo o tempo era meu. e eu a pensar. a amar e a pensar. a desejar e a pensar


basta!

vou amar. desejar. ferver sangue como animal que sou e deixar que outros pensem

nada serviu de nada.

o que pensei passou. já nem eu lembro. não deixou resto ou rasto para seguir.

o que amei é meu.

o que doeu. dói. o que foi riso. ri. as lágrimas não secam. e o sangue. ah, o meu sangue

ainda não coagulou e há-de dançar de roda

uma última dança louca. ao amor louco e vivo. ao calor último. ao motor do viver.

um tango. uma valsa. um outro jogo de entrelaçadas pernas

até amanhecer. até anoitecer. até enlouquecer. até cair de sono

(olhando para o passado. tendo por trás a barca. como amiga fiel.)

ou em intenso espasmo. prazer alucinado. simplesmente. morrer.

26/04/08

livre sou eu

Learning to fly by Foureyes


ninguém me deu

nada.

a liberdade _____ menos _____ que o sonho

mas eu sou _____ livre

como uma criança

que nem imagina _____ enquanto corre

que se morre



__________


e só.

24/04/08

que raiva deu às gentes por causa do encarnado!

A rose per the 25th April in Portugal

foto de madalena pestana


vinte cinco de Abril. assim. por extenso. quem sabe bem o que foi? o porque foi?

nem os novos governantes viveram o "antes disso". terão lido na história. na escola (terão lido?). contaram-lhes os pais. (que pais contaram e o quê?)

vinte cinco de Abril de mil novecentos e setenta e quatro.

parem com a desculpa. é pouco tempo. não é não. é mais do que uma geração. toca a acordar!

digo isto para quem? para ninguém. fechei os comentários. assim ninguém terá medo de concordar ou discordar. porque, passados estes anos, sinto. no ar. de novo. o medo!

o medo no truque da avaliação na função pública tanto quanto nas empresas privadas.

agora chegou o despedimento por INADAPTAÇÃO.

porra, senhores ministros! quem se tem aguentado tanto tempo a adaptar-se a viver cercado a incompetência e corrupção não se adapta ao trabalho, se varia a função?

haja Deus e paciência! Deus tem de haver para este absurdo ter algum sentido, já a paciência... como vai rareando!

lembro hoje, Amigo. o teu telefonema que dizia só. ao acordar-me: " Irmã! já há tropas nas ruas! não me deixam passar. têm de ser das Nossas!"

meia dúzia de dias depois disso morreste. acidente. estúpido como todos. mas morreste feliz!

se visses o que fizeram dessa Tua/Nossa Esperança... estarias como eu hoje.

triste ou... à espera do Verdadeiro Dia!

porque estou cega demais para escrever

O-Mar-por-Horizonte foto de Olga Gouveia


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Ah, todo o cais é uma saudade de pedra!
E quando o navio larga do cais
E se repara de repente que se abriu um espaço
Entre o cais e o navio,
Vem-me, não sei porquê, uma angústia recente,
Uma névoa de sentimentos de tristeza
Que brilha ao sol das minhas angústias relvadas
Como a primeira janela onde a madrugada bate,
E me envolve com uma recordação duma outra pessoa
Que fosse misteriosamente minha.

Ah, quem sabe, quem sabe,
Se não parti outrora, antes de mim,
Dum cais; se não deixei, navio ao sol
Oblíquo da madrugada,
Uma outra espécie de porto?
Quem sabe se não deixei, antes de a hora
Do mundo exterior como eu o vejo
Raiar-se para mim,
Um grande cais cheio de pouca gente,
Duma grande cidade meio-desperta,
Duma enorme cidade comercial, crescida, apopléctica,
Tanto quanto isso pode ser fora do Espaço e do Tempo?

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Álvaro de Campos

22/04/08

dia da Terra. o hacker e... Sócrates II

Grey-Wolf-2 djs photography


dia da Terra. pois. eu devia escrever coisas interessantes mas ando um bocado des-interessada. de quase tudo. excepto do meu hacker. desculpem mas é assim mesmo.

bem. a Terra existe e graças à natureza vai continuar a existir. para além do homem e apesar do homem. nem que sobrem só as resistentes à bomba atómica. as anti-americanas - baratas. (em itálico porque ver-se livre das baratas sai... caro. para quem ganha o que eu ganho. nem para matar baratas...)

mas isto a propósito da Terra. e do Sócrates. o segundo. sobre o segundo não há nada a dizer. chefe de um partido único. culpa do pc que nunca saiu do passado. do seu partido parceiro que... se partiu por inteiro.

falava pois da Terra e do seu dia. o Sócrates já começou qual o seu homónimo sábio. a mudar. devagar. até às eleições. as leis do :

laboro logo existo! - é o lema do homem. já se labora ou não... a futura história a decorar. bem paga e mal contada. o dirá. (que me perdoe o excelente professor de história que um dia tive. mas. decorar aquilo. não é coisa de gente.)

falava pois do dia da Terra. ou do hacker que assentou praça no meu computador como um namorado renitente. ou de Sócrates. o segundo.

o primeiro sempre foi menos mau. "morrer sim mas na esgalha!" - disse um dia. "venha lá a cicuta, seus filhos de uma... senhora séria (que miséria!) já que é moda da casa. exilar-me. quase morto? isso, a ser bom. a ser. é para o meu sucessor." e lá vai disto. comeu anzol e isco. e... não chateou mais ninguém. parecia ser o caso.

ao acaso: Sócrates o segundo. a Terra e o meu hacker (já começo a amá-lo. a mulher ou homem que se cuide!)

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a Terra? a Terra. minha única guerra! é só amá-la. já que vamos tarde demais para salvá-la.

19/04/08

ar

A hand full of nothing

"uma mão cheia de nada" foto de madalena pestana


numa só mão. a minha mão ou outra. fechada. a vida cabe. toda ela.

a vida cabe. a minha. vida nada. vida vazio. espaço. ar. numa só mão.

o voo de pássaro que sonhei ser morreu. as flores que quis nascer

floriram. longe a mim.

o rio que navegava. secou. por baixo dos meus olhos. tanto era o sal

que deles se entornava.



a vida. a minha vida. hoje. cabe numa só mão. num só punho. cerrado

de quem não quer perder o pouco que sobrou. ar. nada. tudo. ar

que por ser ainda respirável. há-de fugir daqui. da minha mão. infértil.

e ir juntar-se ao vento. ser útil. bem distante. fora de mim. do nada.

ser vida. ar salvação. em qualquer uma boca.

17/04/08

caminhos _____ difíceis

the difficult ways where I look for you
foto de madalena pestana


corro. subo. desço.

assalto

todos os caminhos _____ difíceis _____ da cidade

revolvo. destapo. remexo.

recantos

impossíveis de ver a olhos _____ desabituados _____ de sofrer

canso. paro. sento.

fumo

o cigarro apagado do _____ impossível encontro _____de mãos

minto-me. acredito-me. finjo-me.

viva

pronta para a caminhada _____ sem fim _____ de procurar-te

manhã. meio-dia. noite.

madrugada

infinda. urde este desencontro _____ organizado _____ por quem?

canso. revolvo. vivo.

de representar o papel de _____ peregrina do frio _____ do desamor.


sei. sabia. saberei.

viver de

por todos os caminhos _____ difíceis da cidade _____ continuar

a infrutífera busca.


que será de ti. de mim. de nós. amor

se por um capricho _____ impossível _____ do destino

te encontrar

uma vez.

nos caminhos _____ difíceis _____ da cidade?

13/04/08

que sorte. trabalho (?) .



amanhã é dia de trabalho. que sorte! que sorte ter emprego nesta espécie de país periférico à europa dos negócios. da união. (da europa éramos nós. há séculos) que sorte, dizia. pois, dizia mas o que sinto é que vou entrar num espaço de vazio para a minha cabeça. o prelúdio ao tio alzheimer, por entrar num dia, mais um, sem nada que fazer.

nunca fui muito arrumada. confesso. gosto mais de escrever. fotografar. ouvir música. voltar a ler quando o estado a que as coisas chegaram, me der vaga para operar as cataratas. com sorte não cego antes. que sorte!

por não ser muito dada a arrumações, as prateleiras nunca foram a minha forma particular de ocupar o dia. mas amanhã é dia de trabalho. eu sei que não sou nova. as prateleiras laborais estão cheias de gente como eu. à espera. à espera que o governo ganhe de novo as eleições para poder continuar a mudar as leis e chutar os velhos para a rua. sem indemnizações.

eu sei. sou velha mas não burra. os velhos sabem coisas que os novos ainda nem imaginam. entre elas a do direito ao trabalho. não ao emprego. só.

mas que sorte. ainda tenho emprego!

por quanto tempo? não sei. melhor é nem pensar. afinal eu já só espero a Barca. a escada para o cais sei eu descer sozinha. não precisam mesmo de empurrar.

se a Barca se atrasar e antes que o alzheimer me ataque por culpa de cérebro parado dia após dia, vou eu buscar o primeiro barco que encontrar e solto amarras. de vez. de vez. que sorte!

11/04/08

intelecto líquido

foto de madalena pestana


escrevo-te na água. escrevo com os olhos. com água

na água

escrevo meu amigo. não escrevo. dissolvo

eu não sei escrever. falo. com os olhos

pousados no chão. na água. nas pedras

caíram-me pedras-lágrima. dos olhos


escrevo-te na água. no brilho. no chão

que piso a seguir.

molho os pés na escrita que sempre me falha

encharcada em letras _____ água dos meus olhos

eu. intelecto líquido

eu. muda. eu. sentir de escrita vazia. faço-me poema

escrevo-te na água


escrevo-me para ti. na água. na água.


lágrima. palavra. morro-me. no chão.



10/04/08

Meu Vento!

image by Giacomo Sardi


que me trazem as palavras

brazas


que o cérebro ateia?


que vida ainda me cabe

que me chegue


para viver sem Rei nem Lei?


não há Barca para o inferno

nenhuma outra para o céu


há um segredo. um amor


coberto de leve véu

que tu conheces e eu sei



neste ____ tão breve ____ acabar

não há timoneiro de Barca


não há chefe que comande


o mundo ____em caos ____ tão caído



há este amor ____ já cansado


de não estar vivo nem morto

só parado _____como a Barca


que vai a lado nenhum


e há-de chegar_____ pois que venha!


estou rolada como um cardo _____ que nada

em deserto _____ nú




rolo. rolo. rolo. rolo.


que raio de vento és tu?!


04/04/08

saciar ______ nada

image by Angelicatas



fui à rua



bebi vento




engoli toda a poeira que circulava no ar




tive esperança





(num momento patético e desolado)



de que o rodopio trouxesse um aroma




breve ______ a ti





nada ______ pó ______ ______ sem mais nada




a não ser esta imparada saudade imensa



de ti ______ em mim




(saudade da fantasia. do nada que há a lembrar...)





tenho a ânsia ______ o intento ______ vem no vento ______


em vez do vento




tens ______ um corpo




a saciar.