image by Scraps
ontem tinha pensado escrever sobre amor. o meu amor possível. inventado.
mas a cabeça doía mais que o pensamento e fui dormir. trazia na memória um olhar que não parecera ver-me. nem sequer sabia que o trazia. as coisas que se carregam para casa sem saber!
pior, pior foi o sonho depois.
- no emprego, alguém com poder para isso e muito mais, avisava-me, olhando-me como quem não me vê, que já não precisavam de mim. assim a frio e pronto. rápido como os sonhos são. segurei uma tampa de caixa de papelão. coloquei por cima as minhas plantas e saí a informar não me lembro quem. ou lembrarei?
voltei ao local de trabalho que por vinte anos fora o meu. ia saber de mais. do como. do porquê. mas a secretária já fora trocada. esperavam ainda quem a ia ocupar e... não me viam. ninguém sequer olhava na minha direcção.-
nunca me senti tão número como neste sonho. um número apagado. um número para engrossar, e ainda assim pouco, uma futura estatística qualquer.
a minha cadela foi acordar-me. entendi que era sonho. era sonho mas até quando o era?
assim deixei o texto de amor inventado e parti na direcção da barca que o sonho parece anunciar.
não a avisto mas sei que não demora. é mais de indiderença que de doença que se morre. sei o que digo. antes o não soubesse.
não tenho pena de partir. não gosto é de esperar.
hoje não vejo telejornais. falam de desemprego. não sei é como apagar da memória aquele olhar.