com as mãos ____ aquelas mãos ____ vazias sempre faz com a Terra um acordo ____ de mães ____ desesperadas quando a chuva cair____ aqui ou no deserto no inferno que seja____ irá buscá-la e entregará aos rios____ todas as gotas____ nada entornará para que encham o mar o imenso mar ____ que em ondas ____ lhe aceitará ____em troca a infindável mágoa ____carregada ____nas mãos vazias ____como a morte.
31/03/08
coisas de mães
30/03/08
no canto. conto-me.
28/03/08
hieroglifos
__ **__
conhecer
popular-mente
o bom de escrever agora
sobretudo se é em verso
é ninguém ler o que escreves
ou então ler o reverso.
26/03/08
... nas tuas costas
o entranhado desejo satisfeito _________ à tua revelia _________ e renovado
ao ver nas tuas costas a montanha _________ solo erguido _________ vertebrada
24/03/08
tu berço
___________
22/03/08
sopro vida
sopra meu vento ---- amor ---- ao meu ouvido
cerca-me o pescoço duma ---- serpente ---- amante
sibilante
que me faça tremer e ---- oscilar ---- perder no
espaço
que medeia entre o ---- odor ---- de ti no meu
pescoço
e o beijo que desejo
e tu ---- inventarás ---- num sopro criativo
sopra. amor. a palavra. ao meu ouvido
e em ---- enrolo ---- de cobra que volteia
deixa depois de ---- verdadeiro ---- amor
a minha boca cheia.
21/03/08
o sonho
mas a cabeça doía mais que o pensamento e fui dormir. trazia na memória um olhar que não parecera ver-me. nem sequer sabia que o trazia. as coisas que se carregam para casa sem saber!
pior, pior foi o sonho depois.
- no emprego, alguém com poder para isso e muito mais, avisava-me, olhando-me como quem não me vê, que já não precisavam de mim. assim a frio e pronto. rápido como os sonhos são. segurei uma tampa de caixa de papelão. coloquei por cima as minhas plantas e saí a informar não me lembro quem. ou lembrarei?
voltei ao local de trabalho que por vinte anos fora o meu. ia saber de mais. do como. do porquê. mas a secretária já fora trocada. esperavam ainda quem a ia ocupar e... não me viam. ninguém sequer olhava na minha direcção.-
nunca me senti tão número como neste sonho. um número apagado. um número para engrossar, e ainda assim pouco, uma futura estatística qualquer.
a minha cadela foi acordar-me. entendi que era sonho. era sonho mas até quando o era?
assim deixei o texto de amor inventado e parti na direcção da barca que o sonho parece anunciar.
não a avisto mas sei que não demora. é mais de indiderença que de doença que se morre. sei o que digo. antes o não soubesse.
não tenho pena de partir. não gosto é de esperar.
hoje não vejo telejornais. falam de desemprego. não sei é como apagar da memória aquele olhar.
18/03/08
o homem que veio do passado
trouxe também memórias do Mar onde nadaste, meu amor de sempre a sempre. coisas pouco sabidas. coisas de que me orgulho. sabia de ti e da tua maldição de teres nascido português.
amei naquela hora o homem quase estranho, não fora ele um nome doce de ouvir na tua boca. amei-o como se o tivesses enviado.
e não terás? que sabemos nós do para lá disto a não ser que "anda tudo ligado"*?
quero que o homem volte. que me conte de ti antes de mim. também é para isso que servem os amigos - para nos manter vivos depois do tal adeus.
* in Square Tolstoi de Nuno Bragança.
17/03/08
devia sentir-velha
16/03/08
seara-terra
penso. o fim da Terra não vai ser o deserto.
vai ser o avassalador beijo do mar
a cobri-la toda. a ondear. em volúpia de orgasmo
seria bom de ver a pleno tempo
tanto como o é na primavera a ondulação
de seara verde ao vento.
15/03/08
mentira. a primeira.
eu não sou de diários. nunca fui. tive vários. davam-me isso para eu poder escrever com organização. mas eu não sou assim. a minha vida é um caos bem semelhante ao mundo aonde nasci. organizar o quê?
escrevo hoje pelo acaso estranho de ter despertado de um sonho contigo. saí dele apressada mal tu entraste em cena.
envelheceste. às vezes penso que toda a gente está como a conheci, excepto eu. que só em mim o tempo deixou marcas. não. envelhecemos todos. corremos todos, sem vontade, para o fim. desde nascidos.
mas fiquei a pensar porquê, ao fim de tantos anos, me invadias a noite (já manhã). mais no porquê de preferir acordar de ti, que foste um dos meus três amores.
até ao dia em que enfrentei o horror numa só hora. vindo de ti. que eu procurara. pela primeira vez aterrada na probabildade (imaginada. em pavor.) de voltar a ser mãe.
ouvi-te em silêncio. quando terminaste e eu saí, perdera vinte anos de afecto. vinte anos de ilusão. envelhecera cem.
e foi quase sempre assim a minha vida. quantos anos terei eu agora?
o teu são paulo que os conte quando chegar o tempo. eu com este ordenado e estes impostos, só sei fazer contas de diminuir.
antes de rir não ria
hoje sei rir. tudo se aprende. para mim o mais difícil foi o riso
adodescente sempre. séria como adolescente tem de ser
mal sabia eu do riso além do esgar no rosto
mas conseguido o esgar. entreabertos lábios
a boca era já toda fogo posto e a gargalhada ecoava no universo
não sei se é bem verdade mas soa bem em verso e eu não sou poeta
aliás. antes de envelhecer, em coisas de escrever era discreta
dizia só o que sentia sem ninguém entender
e o demais que se aprende na cartilha de quem abusa de ler
escritores de fama
(ahahahahahahahahah